Sobre um texto que se limitava a ser engraçado

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PARTE II



Três da tarde. Nesta sala não havia relogios. O único som escutado durante a entrevista era o periódico e irrtante tocar do telefone, pousado no meio de jornais, manifestos e autocolante partidários. "Estou, sim? Não, hoje não vou poder comparecer à reunião do partido. O quê? Não sei, não sei. Olha pergunta ao Figueira. Ele é que costuma estar por dentro desses assuntos. Está bém. Adeus." Um novo e breve mergulhar sobre a tal folha A5. De novo o silêncio. Um coçar de barba, um ajeitar de nó de gravata mal feito. Finalmente cessou a leitura. Sem olhar para mim, fixando um ponto abstracto no ar, cruzou as mãos em cima da secretária e disse: " Ora bem, o texto está bom. Tem uma certa piada. mordaz até. Mas... Os atrasos dos autocarros não podem ser vistos de uma forma tão leve, tão irresponsável ! Se reparares o primeiro parágrafo ataca sériamente aquilo que o partido XWX , que por acaso é o meu, tem vindo a dizer. Não se pode atacar as convicções partidárias deste modo! Principalmente quando nunca se foi activista nem se sabe o trabalho que isto dá. O segundo parágrafo está presunçoso. Falas de coisas bastante mais complexas do que um linear atraso de horário. Tens de evoluir no sentido de uma maior e melhor conscienlização partidária. Debruçares-te sobre estas questões e chegares à conclusão de que afinal pertences ao lado errado! Nós somos a escolha certa." Fez uma pausa para exibir o seu olhar trinfante de brilhante orador " Olha não queres um autocolante?"



CRISTINA NOBRE SOARES

5 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

A coisa está-se a ccomplicar. Os autocolantes são tramados...

Anônimo disse...

Tudo é relativo, ou como o olahr sobre os ônibus pode variar segundo as convicções do leitor...

Silvares disse...

Este texto ainda vai dar complicações...

coelho04000 disse...

Alguém sabe aquele conto em que um funcionário ouve uma conversa entre o gerente e o presidente de uma empresa e vai repassando aos colegas distorcendo a historia?

coelho04000 disse...

Alguém sabe aquele conto em que um funcionário ouve uma conversa entre o gerente e o presidente de uma empresa e vai repassando aos colegas distorcendo a historia?

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