Vº Capitulo ERRO CRASSO


Arnaldo Rocha saiu discreto. Desceu o Capitólio cosido com as paredes, securizado de perto por dois possantes guarda-costas germanos. Roma de noite não era uma cidade segura, pese embora as promessas eleitorais do Edil Presidente. Olhou à direita o Templo de Jupiter Optimus Maximus. À esquerda o Templo da Fortuna e o Templo Mater Matuta, consagrado a todos os cultos. Atravessou a Pons Aemilius em direcção às docas do Transtiberim, direito ao “Kremlin”.
O “Kremlin” era o novo “must” na noite romana. Um bar discoteca dirigido por um cossaco cítio enriquecido no comércio de “carne branca”.
À entrada, liteiras estacionadas em terceira faixa e um enorme aglomerado de putos patrícios em mini-toga. Arnaldo fez um discreto sinal cabalístico ao porteiro líbio e entrou de imediato pela porta lateral. Lá dentro centenas de “personae” dançavam na promiscuidade das colunas “Sonus Faber” berrando o som infernal do bando “Pink Floyd”, vindo directamente da distante Londinium:
“Money, it`s a crime
Share it fairly but don`t take a slice of my pie
Money, so they say
Is the root of all evil today
But if you ask for a rise, it`s no surprise that they`re
Giving none away”.
No palco à direita quatro esculturais vestais faziam strip de encontro ao varão. No palco da esquerda dois núbios de “priapo” em riste performavam duplo sexo com uma macedónia loira de olhos azuis.
Arnaldo sentou-se na mesa do fundo. Aquele era o sítio ideal para encontros furtivos. Pouca luz. Todos se encontram... ninguém se vê.
Subitamente, por trás de uma cortina em azul de Mitilene, surge uma mulher. Senta-se provocantemente à mesa. Uma exótica egípcia de Luxor com mamas piramidais. A mulher fora essencial para seduzir César para a causa.
Arnaldo conhecia bem a mulher. Conhecia-a desde a falhada operação “Alexandre Magno”, esse imbecil que depois de conquistar meio Mundo, chegando mesmo às remotas paragens da Bactriana, Sogdiana e da própria Gedrósia, às portas do Indo, deixa-se morrer de malária na Babilónia com apenas 33 anos.
Não foi por falta de aviso. Arnaldo bem tentou que o homem tomasse quinino. Sem resultado. Alexandre julgava-se um rei-deus, imortal, imune às doenças humanas... E pensar que isto já fora há 260 anos!!! Como o tempo passa. Tantos projectos entretanto gorados. Tudo por causa de um mosquito! E que restara de tamanha glória: os versos alexandrinos e o rei de paus.
Mas, ao fim de tanto tempo, Arnaldo tinha, finalmente, razões para exultar. Virou-se para a mulher e afagou-lhe carinhosamente as coxas roliças.“Podemos brindar, miúda. Temos triunvirato”. E pediu dois cocktails “pontifex maximus”. Meia hora depois, Arnaldo mandou buscar a liteira-limousine puxada a dez escravos e partiram rumo ao Tivoli onde passaram a noite toda.
Próximo capitulo sexta-feira
JORGE FERREIRA PINHEIRO

Nenhum comentário:

.

.
conte o seu : qcucaup@gmail.com