UM DIA ATRIBULADO NA VIDA DE SIMÃO TALHINHAS....

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j.movilha
Com muito gosto aqui vai a minha primeira participação, enviarei em episódios:

= UM DIA ATRIBULADO NA VIDA DE SIMÃO TALHINHAS = DE COMO SIMÃO TALHINHAS TENTAVA DECIFRAR A POÉTICA ESQUIVA DOS HAIKUS - COMO FATÚ DÁ CABO DO JARDIM ZEN - SE AS MENINAS OUVISSEM RONSARD - AS MAIS FAMIGERADAS DAS TIAS E A HERANÇA -

CAPÍTULO - I

Tentava Simão Talhinhas decifrar a poética esquiva dos Haikus de Basho, avaliando-lhe as osmoses à métrica lusa, recitando de permeio versos de Ronsard, seguindo o voar dos negros melros; distraindo-se somente com o aformoseado e donairoso porte das meninas que saíam e entravam no 27 da Praça do Príncipe Real, que por certo e comprovado, à prática das formas, não tinham igual dez léguas em redor. Pensando ainda em Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos " Bendito seja eu por tudo quando não sei/ Gozo tudo isso como quem sabe que há Sol". Tomando daquele edílico local, um dos mais emblemáticos jardins da nossa urbe, sombra do velho cedro copado e octogenário de seivas, escutando-lhe as raízes ao que ali já foi nome : "Chãos da Ferrôa" ; " Alto da Cotovia"; "Casas do Conde de Tarouca" - estas destruídas pelo Terramoto de 1755 - " Patriarcal Queimada", depois de 1769. Praça do Rio de Janeiro, depois do advento da República, mas para sempre Praça do Príncipe Real . Irmanava-se, então, neste local nalgumas práticas de Pranyana que um antigo monge Yamabushi lhe tinha ensinado, esperançado por esta via em obter acalmias que o fizessem ter coragem para enfrentar as tias e esquecer as tormentosas vicissitudes duma manhã algo inusitada de recordações atribuladas ( não imaginava Simão Talhinhas o que o esperava), No dia anterior a sua empregada Fatú, vinda das bolanhas de Bafatá ( Guiné), e há oito anos a ouvir português na feira do relógio, tinha-lhe desfeito o seu Jardim miniatura Zen. Dizia a Fatú: " Então o minino tha peda por limpá, mitida n'a aria à tanti ano" ( Então o menino tinha estes calhaus todos por limpar e metidos na areia há tantos anos!...) E lá se foram décadas de intuição Zazen, cavalgadas de meditadas resmas literárias, incompreensões e recuos à decifração da folhagem dos salgueiros em quatro estações desiguais e as vistas do seu local predilecto de contemplação, para a cerimónia do chá e das récitas do Clepsidra. Estava agora no patamar da casa das tias, timorato de aparecimento, quando tal ouviu logo Aniceta e Anacleta que lhe cobraram logo com vozeirão de calafate de Vigo, a prenda em falta desde o Natal, um alfinete de peito flor vermelho e rosa Karin Wagner. Prenda adiada, dado que Simão Talhinhas empregou o dinheiro na compra de uma garrafa rara de runs envelhecidos " Havana Club Máximo - Extra Anejo " , do mítico Master Blender de Cuba Don José Navarro.Estas tias tinham uma " commode toilette" bastante requintada, onde figuravam um jogo de frascos René Lalique, verdadeiras preciosidades, onde se incluía uma réplica do primeiro frasco para I'Effleurt de François Conty, duas bonitas gravuras de Bonnart, representando figuras em traje perfumista, uma cave de perfumes, caixa de conservação em madeira da ilha de Fritis, e aionda uma réplica de L'e Tépidarium de Théodore Chassérian, de 1853, cópia muito bem feita por um anónimo em princípios do século XX, tudo que Simão Talhinhas pensava herdar, consubstanciado de esperanças mais avultadas numa gravura de " Um cambista de Veneza" , gravura de Giovanni Grevenbroch , que o fazia pensar no pecúlio amealhado pelo defunto tio em práticas de agiotada banca mutualista. Para este final de herdeira candidatura, tinha de passar a perna às megeras.

Não perca o próximo episódio ( continua)

josé movilha

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, peço que, se possível, divulgue o site do poeta Ulisses Tavares (www.ulissestavares.com.br) em seu blog.
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Desde já agradeço a gentileza.

Abraços!

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