Costa Rica por Grazziella Debbané
Conte o seu COSTA, RICA! | | |
Alerta: | O endereço de e-mail foi adicionado a Lista de Contatos |
ATRAVESSAMOS A FRONTEIRA, VINDOS DO PANAMÁ, DEBAIXO DE CHUVA. CHOVE MUITO EM TODA A AMÉRICA CENTRAL, DE MAIO A DEZEMBRO; MAS NA COSTA RICA, PRINCIPALMENTE NA COSTA CARIBENHA, CHOVE MUITO MAIS - PELO MENOS DOIS PERÍODOS DIÁRIOS: ALGUMAS VEZES, TODA A MANHÃ E TARDE; OUTRAS, NOITE E TARDE OU AINDA, MADRUGADA E MANHÃ, MANHÃ E NOITE... É UMA LOUCURA O QUE CHOVE! NÃO É, COMO JÁ DISSE, UMA CHUVA TRISTE, FRIA, PELO CONTRÁRIO, A MATA FICA RELUZENTE E A BICHARADA, EM FESTA - MAS CHOVE, E MUITO! A ÁGUA, QUE ERA PARA SER COR DE PISCINA, DE CARIBE, TRANSPARENTE, (COMO EU) TAMBÉM SE RESSENTE: ESCURECE, FICA MANCHADA DE AMARELO, MARROM-CLARO, CHEIA DE PEDAÇOS DE TRONCO, FOLHAS, GALHOS, QUE DESCEM DAS MONTANHAS, TRAZIDAS DAS FLORESTAS PELAS CENTENAS DE RIACHOS. ESSA, NÃO É, DEFINITIVAMENTE, A ÉPOCA INDICADA PARA MERGULHO, O QUE CAUSA UMA CERTA TRISTEZA, MAS O PAÍS FICA PRATICAMENTE VAZIO E OS PREÇOS CAEM PELA METADE - O QUE TRAZ UM CERTO CONSOLO. É MUITO BOM TER UM PAÍS TODO, QUASE SÓ PARA VOCÊ, MESMO SENDO NUMA ÉPOCA MOLHADA. A COSTA RICA É UM DOS PAÍSES MAIS VERDES DO MUNDO; HÁ MATA, FLORESTA E PARQUES, ESPALHADOS POR TODO O MAPA. AS ÁRVORES SÃO GIGANTES, MUITO ALTAS (70, 100, 130 METROS) E ANIMAIS SILVESTRES, CORREM LIVRES, POR TODA A PARTE: TEM CROCODILO (SEIS METROS!) TOMANDO SOL DEBAIXO DE PONTE, NA BEIRA DE ESTRADA; PREGUIÇAS LINDAS, PENDURADAS, COMO CACHOS DE BANANA; BANDOS DE TUCANOS, DE PAPAGAIOS, CRUZANDO CÉU, A TODO O INSTANTE; PELICANOS, GAIVOTAS, PAVÕES SELVAGENS; MILHARES DE PÁSSAROS, PASSARINHOS, COLORIDOS, ALEGRES, CANTANDO, VOANDO SEM MEDO, TAMBÉM, PARA TODO LADO. HÁ MACACOS MÍNIMOS, MARROM-AVERMELHADOS, PRETOS, DOURADOS, COR DE GELO, DE CARA BRANCA, ROSA OU DE BUNDA RASPADA, NA SACADA DO SEU QUARTO! OS MAIORES, NAS COPAS MAIS ALTAS, FAZEM UM CARNAVAL ALI NO FUNDO DO QUINTAL, DE ONDE VOCÊ ESTÁ HOSPEDADO. HÁ AS PEQUENAS RAPOSAS, OS LOBOS, OS RACUNS, QUE INVADEM QUALQUER RESTAURANTE, SOBEM NAS MESAS, DERRUBANDO COPOS DE VINHO, ASSALTANDO A COMIDA DO SEU PRATO; HÁ OS JAVALIS, NAS ILHAS; OS GOLFINHOS, AS BALEIAS, SALTANDO METROS E METROS ACIMA DA ÁGUA; AS TARTARUGAS, DEZENAS DE ESPÉCIES, NA MAIORIA DAS PRAIAS... FLORES SILVESTRES, TROPICAIS, VERMELHAS, LARANJAS, ENORMES; PALMEIRAS, BANANEIRAS ESTRANHAS; ÁRVORE DE TODAS AS CORES E FORMATOS. A COSTA RICA É UM DOS PAÍSES MAIS RICOS DO MUNDO EM BIO-DIVERSIDADE! PEQUENA, ESTREITA, MAS CERCADA POR DOIS MARES, CARIBE E PACÍFICO, POSSUI UMA CORDILHEIRA CENTRAL MAGNÍFICA, DE MONTANHAS FORRADAS DE VERDE, PONTILHADAS DE VULCÕES; TEM LAGOAS, ENSEADAS, GRANDES LAGOS; CAMPOS, MANGUES, DUNAS, PRAIAS - LONGAS, CURTAS, BRANCAS, PRETAS (FORMADAS PELOS VULCÕES), CALMAS, COM ONDAS ENORMES; CENTENAS DE RIOS, RIACHOS, DE PEDRA, DE AREIA, COM ÁGUA QUENTE, FRIA, DE ÁGUAS CALMAS OU ENCACHOEIRADAS. A COSTA RICA É UMA LOUCURA, COMO SE TIVESSEM COLOCADO, ALI, COM MUITO CUIDADO, UM POUQUINHO DE TUDO QUE HÁ NA GEOGRAFIA, NA BIOLOGIA DO PLANETA, E O MELHOR, O PAÍS CONSEGUIU SE MANTER PRATICAMENTE INTACTO! AGORA SE PREPARA PARA COLHER OS LOUROS DE UM FUTURO CADA VEZ MAIS PROMISSOR, SUPERECOLOGICAMENTE CORRETO, ONDE NÃO HÁ INDÚSTRIA OU POLUIÇÃO; AS CIDADES SÃO MÍNIMAS, CAIPIRAS, MESMO A CAPITAL, SAN JOSÉ, É QUASE UM BAIRRO DE QUALQUER UMA DE NOSSAS CIDADES! LÁ, SÓ HÁ MESMO VERDE, COBRINDO TODO SEU TERRITÓRIO; SEJA COMO PARQUE NACIONAL OU PLANTAÇÕES, PRINCIPALMENTE DE FRUTAS, QUE ESTÃO MAIS PARA PEQUENOS POMARES, DE ABACAXI, MANGA, BANANA, GOIABA, QUE SÓ FAZEM ENFEITAR E QUEBRAR, UM POUCO, A MONOTONIA CRIADA POR TANTA MATA E GRANDES ÁRVORES. TURISMO & FRUTAS... QUE POVO NÃO GOSTARIA DESSE PROJETO NACIONAL QUE PRETENDE TORNAR O PAÍS VIÁVEL, EQUILIBRADO E PORQUE NÃO DIZER, RICO, EXPLORANDO SUAS RIQUEZAS NATURAIS SOMENTE COM O TURISMO: É DE CAUSAR INVEJA A QUALQUER PAÍS DO MUNDO; É O SONHO QUE SONHEI E SONHO, SEMPRE SEM MUITA ESPERANÇA, PARA O NOSSO BRASIL TÃO MACHUCADO. IMAGINA QUE MARAVILHA, COM A NOSSA RIQUEZA, E PROPORÇÕES!, VIVER DE FESTA, DE NATUREZA - DE AVENTURA E BELEZA... PORTO VIEJO É A PRIMEIRA CIDADE (VILA!) NO CAMINHO, DE QUEM ATRAVESSA A FRONTEIRA DO LADO DO CARIBE. AS PRAIS SÃO EM SUA MAIORIA, DE AREIAS PRETAS, BRILHANTES COMO MINÉRIO, E DE BELAS ONDAS - NÃO É À-TOA QUE SUAS ÁGUAS SÃO INFESTADAS DE SURFISTA - LOCAL, ESTRANGEIRO, MORADOR OU A PASSEIO - E, COMO TODO O RESTO DO PAÍS, CERCADAS POR FLORESTA E MATAS FECHADAS. SEUS HABITANTES, COMO NA VIZINHA BOCAS, NO PANAMÁ, SÃO EM SUA MAIORIA NEGROS, E ALI CULTIVAM AQUELE "Q" RASTA: BARES DE REGUE, REDES NA PRAIA E MUITA MACONHA, FUMADA AO AR LIVRE, NAS AREIAS, NAS CALÇADAS. A NOITE É BEM ALEGRE E A VILA POSSUI UMA MEIA DÚZIA DE BARES E RESTAURANTES MAIS REFINADOS. IMAGINA QUE CONHECI UM LIBANÊS E UM JORDANIANO, SÓCIOS-MUÇULMANOS, DANÇANDO E COZINHANDO UMA BARBARIDADE EM UM BOTEQUINHO DE CALÇADA: JÁ QUE NÃO HÁ MESMO COZINHA LOCAL, É MUITO BOM ENCONTRAR ESSES ESTRANGEIROS ESPALHADOS POR TODA A AMÉRICA, PARA SALVAR O ESTÔMAGO DA VIAGEM... ACIMA DE PUERTO, NA PROVÍNCIA DE LIMON, O ÚNICO PORTO QUE VI NO PAÍS, NÃO HÁ MAIS QUE UMA ESTRADA, E SIM PARQUES, CORTADOS POR RIOS (QUE DIZEM SER UMA LOUCURA PARA PESCA ESPORTIVA), LAGOAS, E TAMBÉM UMA ESPÉCIE DE BAÍA RECORTADA, FORMADO POR PEDAÇOS DE TERRA, CHAMADA TORTUGUERO - A TERRA DAS TARTARUGAS! LAR DE DEZENAS DE ESPÉCIES AMEAÇADAS, QUE TÊM NÃO SÓ MORADA RESGUARDADA, MAS CUIDADO 5 ESTRELAS, OFERECIDOS POR INÚMERAS ONGS, INSTITUIÇÕES NACIONAIS, ESTRANGEIRAS, QUE, PELO MENOS ALI, VÃO CONSEGUIR MANTER SUA EXISTÊNCIA INTACTA. O CAMINHO PARA SAN JOSE, NO ALTO DAS MONTANHAS, CORTA PARQUES, VULCÕES, E MAIS PARQUES; A ESTRADA É SINUOSA, LINDA E AINDA MAIS VERDE, ME LEMBRANDO MUITO A SERRA DE CURITIBA E A DE SÃO PAULO, SÓ QUE AINDA MAIS FOGUE E ALTA - MUITO ALTA. A CIDADE EM SI É UMA COISINHA DE NADA (O FORTE NO PAÍS NÃO SÃO AS CIDADES), QUE NEM PRECISA SER VISITADA, MAS A PARTIR DALI, É UMA LOUCURA ESCOLHER, SE SE VAI PARA ESTE OU AQUELE VULCÃO OU PARQUE, PRAIA DE SURFE, PESCA OU MERGULHO... NÓS, ESCOLHEMOS O ARENAL, O VULCÃO MAIS VISITADO, SEGUINDO POR UMA ESTRADINHA SECUNDÁRIA MAIS LONGA, QUE CRUZOU TODA UMA OUTRA CADEIA DE MONTANHAS E VILAS DE ARTESANATO, COMO GRÉCIA, ETC.. A ESTRADA É MUITO PITORESCA, MAS NÃO HÁ MESMO ARTESANATO, SÓ UM MONTE DE IMITAÇÃO DE MÓVEIS "RÚSTICOS" ANTIGOS (QUE MEDO!) E UNS CONJUNTOS DE VARANDA LEGAIS (APESAR DE INTRANSPORTÁVEIS), TAMBÉM DE MADEIRA, PINTADOS COM FLORES, TUCANOS E PAPAGAIOS, MUITO COLORIDOS E BACANAS - LEMBRARAM AS VARANDAS DA FLORIDA, AINDA DOS ANOS 50. HÁ TAMBÉM MUITAS CARROÇAS, DE TODOS OS TAMANHOS E FORMATOS, TAMBÉM PINTADAS, MONTADAS COMO CAMAS, MESAS OU BARES, VENDIDAS COMO SÍMBOLO DA REGIÃO, RELÍQUIAS DA ERA DO CAFÉ OU ALGO, PARA MIM, SIMPLESMENTE IMCOMPRÁVEL, AFINAL, QUEM É QUE LEVARIA PARA CASA UM BAR QUE FINGE SER UMA CARROÇA? O VULCÃO ARENAL FICA EM "LA FORTUNA", PROVAVELMENTE O LUGAR MAIS VISITADO DO PAÍS; UMA VILA MOVIMENTADA POR TURISTAS-CAÇADORES DE AVENTURA, OFERECIDAS EM FORMA DE CANOAGEM, CANOPY, ALPINISMO, MONTANHISMO, CACHOEIRISMO, CICLISMO E TODOS OS "ISMOS" ENCONTRADOS NA NOVA ZELÂNDIA OU AUSTRÁLIA. SOUBEMOS DE UM GRANDE HOTEL, ZERO BALA, QUE POSSUIA A MELHOR ESTRUTURA DE HOT SPRINGS DA ÁREA... O THE SPRINGS, FICA ESCONDIDO EM UMA ESTRADA LINDA E DE BARRO (PARQUE PARTICULAR), CHEIA DE MORROS, PONTES, RIOS, E TODO O COMPLEXO FICA VOLTADO PARA O DONO DA CASA, O VULCÃO ARENAL; SEUS QUARTOS, DECORADOS COMO OS CHALÉS DE MONTANHA, TÊM TODOS AQUELA JANELA-PORTA GIGANTE, ENVIDRAÇADA, OFERECENDO UMA DAS MELHORES VISTAS DA CIDADE! ERA O MÁXIMO ACORDAR E DAR DE CARA COM AQUELA MONTANHA AZULADA, DESENHADA À MÃO, EXPELINDO FUMACINHA... FIZ DEZENAS, CENTENAS DE FOTOS DO VULCÃO, E DE TÃO BOM, BONITO, QUASE NÃO CONSEGUIA SAIR DO QUARTO! COMO O HOTEL FOI RECEM-INAUGURADO, HAVIAM PELO MENOS DOIS FUNCIONÁRIOS PARA CADA HÓSPEDE, NUMA PROPORÇÃO DE 120/60, O QUE PODE PARECER MUITA GENTE, MAS SE VOCÊ VISSE O TAMANHO DO LUGAR, ERA COMO SE SE TIVESSE RESTAURANTES, BARES, PISCINAS TÉRMICAS (PEQUENA LAGOAS ESCONDIDAS NA MATA), LITERALMENTE, PARTICULARES. ENTÃO, APROVEITÁVAMOS PARA DORMIR, VER DVD OU TV, QUASE TODO O DIA E Á NOITE, EM COMPANHIA DE NOSSAS TACINHAS DE VINHO, EXPERIMENTÁVAMOS ESSA OU AQUELA TEMPERATURA DE BANHO: QUANTO MAIS ALTAS, PERTO DA FONTE, MAIS QUENTE ERAM AS ÁGUAS, ENTRE 40 E 25 GRAUS - COMO DIRIA, UM ESPETÁCULO! IMAGINA ACRESCENTAR AO CENÁRIO IDÍLICO, UMA LUA QUASE CHEIA, ORQUESTRA ALTÍSSIMA DE CORUJAS E SAPOS VARIADOS, AO PERFUME DE UMA FLOR BRANCA, NATIVA, DE BEIRA DE RIACHO, CUJO AROMA MISTURA JASMIM COM AQUELES LÍRIOS, QUE A GENTE COMPRA EM VASO. CONSEGUIU VIZUALIZAR O CENÁRIO? ERA MELHOR! DO MENU DE AVENTURAS, EXCLUÍMOS A FLORESTA QUE LEVA ATÉ UM LAGO AZUL INCRÍVEL, COM TODO JEITO DE "RIO BONITO", MAS DEPOIS DO VULCÃO PACAYA,NA GUATEMALA, RESOLVEMOS DECLINAR DA CAMINHADA DE NÃO SEI QUANTAS HORAS, EM MATA FECHADA, SUBINDO E DESCENDO MORRO, CORRENDO DE MOSQUITOS, COBRAS & LAGARTOS; DECLINAMOS TAMBÉM DAS CANOAGENS: NÃO TEMOS CURRÍICULO PARA O GRAU DE DIFICULDADE OFERECIDO! CANOPY, O VÔO PELAS COPAS DAS ÁRVORES, PARECIA O PROGRAMA MAIS PROMISSOR: MERGULHAMOS FUNDO, ESCOLHENDO O MAIS TURBINADO. SENHORAS E SENHORES, IMAGINE-SE SUBINDO PARA SEMPRE EM UM TELEFÉRICO, SOBRE MONTANHAS COBERTAS DE FLORESTA DE ÁRVORES MUIIIITO ALTAS; SUBIR, CONTINUAR SUBINDO, SUBIR MAIS UM POUCO, ATÉ QUASE CHEGAR NO CÉU. POIS BEM, DALI, VOCÊ COMEÇA A DESCER, PENDURADO NAS "ZIP LINES (CABOS DE AÇO), LIGANDO TORRES (PLATAFORMAS), QUE VÃO DESCENDO, CRUZANDO VALES, RIOS, MONTANHAS, ÁRVORES E MAIS ÁRVORES. GENTE, O PRIMEIRO CABO CORATAVA O INFINITO, DESAPARECIA COM VOCÊ NO FOGUE DE UM VALE, A UNS 200 METROS DE ALTURA E SEGUIA, SEGUIA, POR 1.000, 2.000 METROS, INTERMINÁVEL. MEU CORAÇÃO PAROU, EU, PRATICAMENTE, MORRI! DEPOIS DESSE, HÁ MAIS 17 CABOS, MENORES, MAIORES, MAIS CURTOS, JÁ NEM ME LEMBRO, DE TANTO PÂNICO... A ÚNICA COISA QUE SEI É QUE SE VOCÊ RESOVE DESCER O PRIMEIRO, TEM QUE IR ATÉ O FIM, NÃO HÁ VOLTA E MUITA GENTE, MARMANJOS-BARBADOS, EMPACA NO MEIO E É UMA NOVELA: TODO MUNDO TEM QUE ESPERAR, FAZ PRESSÃO... FORA QUE SE VOCÊ NÃO SE SEGURA FRIME, MANTÉM OS BRAÇOS PARALELOS, RETOS, O GANCHO GIRA E A ROLDANA PÁRA NO TRILHO, LÁ NO ALTO, NO MEIO DO NADA... ATÉ O INSTRUTOR DESCER ATÉ O FINAL E RETORNAR PELO BONDINHO, LEVA UNS BONS 30 MINUTOS, E VOCÊ LÁ, PENDURADO, ÀS VEZES, DE CABEÇA PARA BAIXO, NAQUELA ALTURA: É CAIXÃO E VELA PRETA, NÃO HÁ DÚVIDA! EU, DE TANTO MEDO, SEGUREI O CANO DA ROLDANA TÃO FORTE, TÃO RETO, QUE MINHAS ÚNHAS FICARAM ENCRAVADAS NA PALMA DAS MÃOS, TAMANHO O PÂNICO DE FICAR LÁ, PENDURADA... QUANDO ACABA, BRANCOS, PARALISADOS, TODO MUNDO COMEÇA A RIR, TAMANHO NERVOSO, COMO SE HOUVESSE CONQUISTADO A LUA OU SOBREVIVIDO AOS SETE MARES - UMA SENSAÇÃO ESTRANHA, MAS GOSTOSA. DE LA FORTUNA, SEGUIMOS PELA ESTRADA, RODEANDO TODO O PARQUE E LAGO DO ARENAL, ATÉ A ESTRADA QUE LEVA PARA A COSTA PACÍFICA, PARAAS PRAIAS. TAMARINDO É A MAIS FAMOSA PARA O SURF, E AMERICANOS CALIFORNIANOS CANSADOS DE SUAS ÁGUAS CASEIRAS, SEMPRE GELADAS, RESOLVERAM ELEGER ESSA, A SUA BASE NA COSTA; COM ELES, CHEGARAM OS CONDOMÍNIOS, HOTÉIS, RESTAURANTES E RESORTES. A PRAIA EM SI NÃO É TÃO BONITA, AS AREIAS SÃO BEM BATIDAS E EM SUA MAIORIA, ESCURAS, POR CAUSA DOS VULCÕES, MAS ENCONTRAMOS UM DESTES "ALL INCLUSIVE" , DE CADEIA, QUE ESPALHA GENTE E COMIDA PARA TODOS OS LADOS, FINCADO BEM NA ENTRADA DE UM BELO PARQUE MARINHO, COM PRAIA DESERTA, BERA-RIO E MANGUE. O BARCELÓ TAMBÉM POSSUÍA UM EXÉRCITO DE RACUNS-ARRUACEIROS QUE PASSAVAM TARDES E NOITES CIRCULANDO ENTRE OS HÓSPEDES, PLANEJANDO GOLPES, ASSALTANDO MESAS E COZINHA: UMA GRAÇA, A COISA MAIS LINDA QUE JÁ EXPERIMENTEI EM UM HOTEL. DEPOIS DE TRÊS DIAS CURTINDO CHUVA, PRAIA E RACUN, PEGAMOS A ESTRADA DE NOVO, DESTA VEZ, DE BARRO E PEQUENOS RIACHOS, QUE SEGUE A COSTA E DEZENAS DE PEQUENAS PRAIAS, SEGUINDO ATÉ ONDE UM 4X4 PODE IR, EM GUANACASTE. NOS HOSPEDAMOS EM CASA DE SURFISTA-VELHO AMERICANO, RADICADO HÁ MAIS DE TRINTA ANOS, EM POUSADAS, CABANAS, CURTINDO PARQUES MARINHOS E PEQUENÍSSIMAS VILAS, ENCRUSTADAS ENTRE A FLORESTA E AS PRAIAS. O PERCURSO NÃO CHEGA A SER LONGO, JÁ QUE O PAÍS É MESMO PEQUENO, MAS PARANDO AQUI E ALI, LEVA-SE UNS QUATRO, CINCO DIAS... ATÉ QUANDO SE CHEGA A UM RIO, MAIOR, E TEM-SE MESMO QUE RETOMAR A ESTRADA, SEGUINDO POR PUNTARENAS, ATÉ O FINAL DO GOLFO DE NICOYA. AS PRAIS ALI SÃO AINDA MAIS DESERTAS, COM EXCEÇÃO DE UMA OUTRA VILA, COMO TAMBOR E MONTEZUMA, ESTA ÚLTIMA, UM PARAÍSO MEIO-HIPPIE, LOCALIZADO NA ENTRADA DO PARQUE CABO BLANCO, UM LUGAR LINDO, MEIO ABANDONADO. EM TAMBOR, CONHECEMOS UM CASAL DE MÉDICOS AMERICANOS, SÓCIOS DE OUTROS CONTERRÂNEOS EM UMA CASA DE PRAIA. SEMPRE ACHEI ESTRANHA A IDÉIA DE SE TER UMA CASA DE PRAIA EM OUTRO PAÍS, MAS COM OS PREÇOS E O CLIMA DA COSTA RICA, NADA MAIS LÓGICO! COM ELES, ALUGAMOS UM PEQUENO BARCO, PERCORREMOS AS ILHAS, FIZEMOS AMIZADE COM UMA SIMPÁTICA JAVALI, DE NOME FILOMENA, MORADORA DA PEQUENA ILHA DE TORTUGA, A MAIS BONITINHA DO GOLFO; TOMAMOS MUITAS MARGARITAS QUASE CONGELADAS NO CAFÉ DE OUTROS SEUS CONTERRÂNEOS, UM CASAL GAY, TAMBÉM ALI RADICADOS, CURTIMOS A REGIÃO DE MAL PAIS, OUTRO "QG" DE SURFISTAS E UMA SIMPÁTICA VILA CHEIA DE RESTAURANTES E PEQUENOS BARES... DE VOLTA A ESTRADA, ATRAVESSAMOS DE FERRY O GOLFO DE NICOYA, PARA O OUTRO LADO DE PUNTARENAS, ONDE AS PRAIAS SÃO UM POUCO MAIS URBANIZADAS. A PRIMEIRA COISA REALMENTE BACANA, UM POUCO MAIS CARA, É "EL SUENOS": UM CLUBE-CONDOMÍNIO-MARINA GIGANTE, QUE ME LEMBROU O "OCEAN REEF" DO FERIADO DE 4 DE JULHO AMERICANO, ONDE, ACHO, QUE TODO MUNDO QUE TEM GRANA NA COSTA RICA, GUARDA SEU BARCO! HÁ O HOTEL, O CLUBE, EDIFÍCIOS BAIXOS DE APARTAMENTOS, CASAS ESPALHADOS ENTRE OS MORROS DE FLORESTA, O ENORME CAMPO DE GOLFO E A PRAIA. EXISTEM MUITOS DESSES EMPREENDIMENTOS ESTRANGEIROS NO PAÍS, MAS ATÉ ONDE VI, NÃO DEGRADAM, PELO CONTRÁRIO, TORNAM MAIS BONITA A PAISAGEM. É CLARO QUE NÃO SÃO PARA TODOS OS BOLSOS, MAS SINCERAMENTE, QUER DESTRUIR UMA PRAIA DESERTA, OU PARQUE, É SÓ DEIXAR NA MÃO DE NATIVO, SEJA QUAL FOR A NACIONALIDADE: CORTAM O QUE ENCONTRAM PELA FRENTE, ARRASTAM ABSOLUTAMENTE TUDO NO FUNDO DO MAR, SEM FALAR EM ESGOTO E LIXO - É UMA DESGRAÇA! É CLARO QUE O CERNE DO PROBLEMA É SEMPRE EDUCAÇÃO, MAS ATÉ O MUNDO RESOLVER ESSE PROBLEMA, MIL VEZES UM CONDOMÍNIO DE LUXO QUE CAIÇARA DESTRUINDO MATAS, RIOS E PRAIAS! FACISTA EU? TAMBÉM ACHO! MAIS AO SUL, HÁ O PARQUE MARINHO DE MANUEL ANTÔNIO, UM DOS FAVORITOS DO LADO PACÍFICO, QUE NA TEMPORADA, FICA LOTADO. O LUGAR É BACANA, CHEIO DE HOTÉIS, POUSADAS, BARES, MORROS E AS PRAIAS DO PARQUE SÃO REALMENTE UMAS DAS MAIS BACANAS DO PAÍS: AREIAS BRANCAS, CERCADAS POR VERDE E MUITA FAUNA... ALUGAMOS UM APARTAMENTINHO CONSTRUIDO EM UM EDIFÍCIO NO ALTO DE UM MORRO, POR UM RESIDENTE AMERICANO , QUE ERA UMA GRAÇA E PROVAVELMENTE A MELHOR OPÇÃO DE HOSPEDAGEM, JÁ QUE SE TEM MAIS PRIVACIDADE, UMA PISCINA LINDA DE MORRER EM UM DEQUE, NO MEIO DA MATA, COZINHA COMPLETA E CHURRASQUEIRA PARA ASSAR O QUE FOR PESCADO OU COMPRADO, PAGANDO A METADE DE UM HOTEL DO MESMO NÍVEL! ALVINHO-MARIDO, SAÍA PARA PESCAR, EM ALTO-MAR, CURTINDO MUITO GOLFINHO E BALEIA, QUE FORRAM AS ÁGUAS DA REGIÃO ESSA ÉPOCA DO ANO, ENQUANTO EU LIA, DORMIA, PENSAVA, TOMAVA BANHO DE MAR, PENSAVA UM POUQUINHO MAIS, E À NOITE, ASSÁVAMOS OS FRUTOS DE SUA PESCARIA, NA BEIRA DA NOSSA LINDA PISCINA, VIVENDO UMA ROTINA MUITO LEGAL, TRANQUILA, COM AQUELA CARA DE BAHIA... EXISTEM TAMBÉM MUITAS CASAS, DE TODOS OS TAMANHOS, MUITO BACANAS, COM EMPREGADOS, ETC.., QUE SE PODE ALUGAR, EM TODA A REGIÃO, ENTÃO, SE VOCÊ GOSTA DE VIAJAR EM GRUPO SEM PERDER O ESTILO E AINDA PAGAR MAIS BARATO, ENTRE NOS SITES! EXISTE UM EM PARTICULAR, QUE GOSTO MUITO E ESTÁ ESPALHADO POR MUITAS CIDADES DO MUNDO: O "VRBO" - VACCATION RENTAL BY OWNER. A PARTIR DESSE, SE CHEGA A MUITOS OUTROS! APÓS UMA SEMANA DE DESCANSO, E DE CRUZAR O PAÍS DE CABO A RABO E PELOS DOIS LADOS, DEVOLVEMOS NOSSO SUPERJIPE EM SAN JOSE, SEGUINDO DE AVIÃO ATÉ A COLOMBIA... Grazziella Debbané |
Grazziella Debbane, do Panamá
conte o seu
|
grazziella debbane
DESCONSTRUINDO CUBA
conte o seu
| | |
Alerta: | O endereço de e-mail foi adicionado a Lista de Contatos |
|
Guatemala : O coração do povo Maia
conte o seu | ||
Alerta: | O endereço de e-mail foi adicionado a Lista de Contatos |
Vamos lá... Guatemala!
Partimos de Belize City em um desses antigos ônibus escolares, doados pelos americanos e/ou canadenses, que somam, pelo menos, 90% de todo o transporte público na América Central. Em alguns países, como a Colômbia ou o Panamá, são verdadeiras boites ambulantes, com luzes de néon, babados, cortinas aveludadas e música, tocada muito alta. Em Belize e na Guatemala, têm apenas o seu exterior pintado por cores fortes, variadas. Seu estado de conservação, porém, é similar em toda parte: motor batendo pino, bancos quebrados, verdadeiros dragões, expelindo fumaça. Conduzidos por motoristas absolutamente à vontade, param aqui e ali, no meio das estradas ou pequenas cidades, tomam café, batem papo, entregam ou recebem encomendas, sempre particulares... o que torna a viagem sempre mais demorada! Neles também não há ar-condicionado e as pequenas janelas estão, sempre, sempre, emperradas.
Diferente da belizenha, que é plana e tem vegetação de mangue, em muitas partes aterrada, a estrada que adentra a Guatemala é muito verde, cheia de campos, restos de florestas, morros que sobem e descem, cortando rios e vilas agropecuárias. O cheiro que entra pela janela é uma mistura de nirá (broto de alho japonês) com castanha sendo tostada; um cheiro quase enjoativo, muito instigante, que me ocupou horas perdidas, tentando decifrar seu mistério. Dias depois, andando pelas ruínas Maias, descobri que aquele perfume estranho vem de cedros majestosos, de suas minúsculas flores amarelo-claro. Sempre pensei que estas, fossem árvores de propriedade exclusiva de montanhas nevadas, como as do Líbano e dos Himalaias, mas não: os cedros, como pude confirmar depois, estão por toda a floresta da Guatemala.
A Guatemala já foi o centro de um vasto e antigo reino, que descia do sul do atual EUA, passava pelo México, Belize, El Salvador, Honduras, seguindo até a Costa Rica, que acho, é o único desses países que não fez parte do poderoso Império Maia... Então, se você se interessa pela rica história desse povo ou simplesmente gosta de viajar no passado, não perca mais seu tempo nas ruínas da península de Iucatã, no México: siga direto para Tikal e El Mirador: essa última, a pelo menos 3 dias de viagem em lombo de burro, ainda perdida no coração da mata.
Tão ou mais desenvolvida do que qualquer outra civilização contemporânea, a Maia deixou na Guatemala, verdadeiras cidades, com quilômetros e quilômetros de extensão, cheias de prédios enormes, praças, templos, ruas, poços de água; megalópolis que vêm sendo engolidas pela densa floresta, desde que a civilização desapareceu da face da terra, há mais ou menos 1000 anos, sem deixar qualquer explicação!
Ali, ainda se vêem (pelo menos 40% da população) milhares de Maias puros ou (outros 60%) mestiços, nos teares, feiras, campos e montanhas, exibindo seu rico artesanato. E que trabalho; um tear que mistura Vietnã com China, só que de cores sólidas, imendadas por um bordado copiado por Kenzo - de um bom gosto que me deixou impressionada. Isso na versão clássica, pois quando resolvem ser rococó, ninguém segura seus bordados: um misto de "mil e uma noites"com o mogul dos palácios indianos do tempo do Raj... E olha que não tem muito artesanato me deslumbrando ultimamente: tentei comprar coisas no México (lá só há a cerâmica, que é divina, mas muiiito pesada e cara), na Costa Rica, no Panamá, Cuba... Caribe, Venezuela e não encontrei nada!
Ainda bem que descobri, totalmente sem querer, a Guatemala... Um lugar rico em cultura, cheio de graça!
A capital, Guatemala City é uma das cidades mais bonitas e arrumadas de toda a América Central. Tem avenidas largas ajardinadas, fontes, monumentos, bairros divididos por zonas, que concentram shoppings, escritórios, prédios residenciais "tipo Morumbi, bairros chiques de casas, bares e restaurantes, numa noite muito animada. Veja bem, para quem saiu de Belize City, qualquer cidade mais ou menos engraçada, já vira uma festa e passar ali um ou dois dias, antes de seguir para Antigua, a "antiga"capital, pode ser uma boa sacada. Cidade grande é sempre cidade grande, mas me impressionei com Guate - como chamam Guatemala City.
Antigua é uma pérola e não é à-toa que é tomada por europeus e americanos, que passam meses em suas calçadas e arcadas, dividindo-se entre cafés, turismo e aulas de espanhol. Não sabia, mas esse é um destino superdescolado para quem quer ficar fluente na língua, e de quebra curtir vulcões, vulcões, lagos, mercados e arquitetura colonial intacta. A cidade não é muito grande, tem umas 20 quadras de comprimento, por umas 12 de largura; já foi derrubada e reconstruída inúmeras vezes, por causa dos terremotos, mas ainda mantém aquela aura imponente de colônia rica espanhola e está muito, muito bem preservada. É muito gostoso hospedar-se em uma daquelas casas senhoriais, hoje hotéis-boutique, com seus jardins internos, fontes e arcos; passar o dia perambulando por suas ruas de pedra, admirando suas belas fachadas! Isso sem contar na quantidade de cafés, bares e restaurantes, com todo tipo de cardápio contemporâneo e música, espalhados por toda a cidade. Muito bom voltar a comer, beber bem, depois de quase um mês rodando entre sul do México, Belize e interior da Guatemala. A América Central é linda, tem mil lugares fantásticos, mas não tem cozinha: se tem uma coisa que os ameríndios não deixaram, foi sequer um pratinho gostoso, bem temperado. Eu sei, eu sei, vocês devem estar se perguntando: "e o México? "O México, caros amigos, tem uma culinária formidável, mas é muito difícil provar dela na beira da estrada, nos lugares remotos, pequenos, afastados... Ali, é tudo muito frito, recheado de carnes engorduradas, meio secas, picadas. Tem pimentas? Tem. Tem deliciosas tortillas de milho? Tem, mas quer saber, mesmo que esteja sendo metida, mil vezes minha carne de panela cozida em tomates, cebolas, pimentas frescas e cominho, por quase 4 horas... perfumada, macia, desfiada: para rechear ou topar qualquer burito! Já o guacamole, nossos abacates são também muito bons, temos o coentro, só devendo mesmo o milho: divino, docinho, macio!
A cozinha da Guatemala também não é exceção; seus pratos ensopados não têm personalidade ou tempero: ainda bem que a cidade não peca em opções estrangeiras.
Se parar para pensar na maior aventura da viagem e, talvez, de toda a minha vida, não teria como não escolher a subida do vulcão Pacaya. Toda a região de Antigua e vizinhança, está cercada por vulcões; em sua maioria, montanhas muito altas, pontiagudas, soltando fumacinha, exatamente como nos desenhos. São absolutamente lindos, e seguem enfeitandos esquinas inesperadas, sejam no meio das cidades ou em curvas de estradas.
O Pacaya é o vulcão de escolha de 9 entre 10 turistas aventureiros, de certa forma ingênuos, que se esquecem que estão no terceiro mundo e onde tudo pode e vira desastre. Por toda Antigua, pequenas agências de turismo vendem a aventura como se fosse um passeio no parque... Para se ter uma ideia da loucura, a lavra do vulcão, em plena atividade, costuma mudar de direção, e é claro, sem prévio aviso, escorre da montanha por um novo lado. Em algumas escaladas, dos seus 2.600 metros, a turma tem que se arrastar montanha acima, se rasgando em pedras afiadas como vidro, se afundando na areia fina, preta, subindo uns 200, 300 ou 500 m, dependendo do humor da fera, ao lado de rios de pedras incandescentes, que explodem, sem o menor suspiro, bem na sua cara. Na nossa visita, a lavra havia mudado de rumo e tivemos que entrar bem na cratera da besta para poder avistar o rio vermelho, escorrendo do outro lado. Foram mais umas três horas de uma subida impiedosa, onde ninguém havia se preparado - estávamos todos de camiseta e bermuda leve - quando deveríamos estar de macacões não inflamáveis, capacete, luvas, joelheiras, botas turbinadas e, principalmente, bem, muito longe. Enfim, se seguia subindo, sofrendo, tremendo e se machucando, até o momento final onde nos puseram para caminhar em cima de crostas muito finas, recém formadas; lasquinhas de pedra, caindo aqui e ali, entre cobrindo a sopa vermelha borbulhante... Gente do céu, que medo, que alegria, que vontade de sair dali de helicóptero! Não dá para dizer que não é impressionante, mas qualquer um com o mínimo de escola sabe que a qualquer momento, uma daquelas pedras se quebram e quem estiver em cima cai, morre; sem choro, vela ou enterro, naquele exato instante. É estranho sentir a vida assim, tão perto da morte eminente: uma experiência única e apavorante. O que vale, agora, são as fotos, exibindo aquele ar de vitória, dentro da boca do vulcão flamejante, nosso maior momento de glória...
Retornamos a Belize após algumas semanas, seguindo por pequeníssimas cidades, de ônibus, viajando com negros sorridentes e uns tipos muito estranhos, que abordavam aqui e ali, austeros, em silêncio, como se fossem ETs, de tão vestidos e brancos. Não sei se pertencem a alguma seita religiosa ou se são só descendentes de ingleses camponeses que pararam no tempo: homens muito simples, de unhas imundas e grandes, vestidos com camisas quadriculadas de mangas longas e calças pretas, presas por suspensórios de couro. Suas mulheres, adultas ou crianças, traziam seus cabelos trançados, portavam chapéus de palha baratos, enfeitados por fitas, e eram cobertas dos pés à cabeça por longos vestidos floridos, embabadados, como os que se vêem em histórias infantis, nos personagens de fazendas encantadas. Quietos, em bancos separados, entravam e saiam, pelas cidades pobres e perdidas do interior de Belize, sem sequer me deixar saber quem são...
Reavemos nosso jipinho 4x4, há muito abandonado na pequena Corozal, quase fronteira, e com nosso visto já quase explodindo, partimos de volta para o México.
grazzielladebbane@yahoo.com.br
Daniel Violato - Libra Rasa
Conte o seu
Libra Rasa
Já não me é claro quando ou como foi a última vez que vi imagem como esta. Aliás, entre as tantas coisas que se tornaram escassas, a clareza se destaca em quase todas as suas conotações - se não em todas. A luminosidade é um luxo que só pode ser usufruído em momentos muito raros. Surge apenas quando conseguimos apanhar algo para minorar a fome e, estando ela abrandada, restam as últimas centelhas do fogo construído para tornar minimamente palatável a carne dos animais que encontramos nesse buraco. A imagem que essa pouca luz revela é bastante curiosa, talvez por ser evento raro, como a sensação de saciedade que a acompanha. Vejo as figuras do meu irmão, dela, e do estranho. Cada um, como eu, encontra-se acocorado em um dos cantos dessa caverna. É como se buscássemos nos apropriar de uma das poucas coisas que temos em abundância: espaço. O pensamento está confuso em decorrência do desconforto extremo. Nossos traços fisionômicos acham-se transfigurados pela sujeira e pelo jogo de sombras produzido pelas pequenas chamas, que rapidamente vão se esvaindo. Nessas circunstâncias, parece natural que o espaço onde acostamos nossos corpos seja a única coisa capaz de dar alguma impressão de que, aqui, se pode firmar a individualidade. E quão avidamente a busco...
Não sei até que ponto a memória depende das imagens. Talvez ela seja avivada pela ilusão de que o sofrimento parte quando o estômago ganha algo para digerir depois de tanto tempo sem poder realizar sua atividade. Em outra ocasião, poderia gastar muito do meu tempo com divagações dessa natureza. Mas a lucidez tornou-se rara. Aparentemente minha mente escolheu se fixar nas lembranças envolvendo essas três pessoas que comigo dividem esse espaço, que muitas vezes reconforta ser pensado como o vindouro leito de morte. É estranho reparar que não domino os pensamentos, sempre tão difusos. Como há pouco lembrei, a clareza tornou-se uma estranha. Recordo de estarmos os quatro andando em uma floresta agradável, logo nas primeiras horas da manhã, após breve sereno. Essa soma de fatores fazia crer numa identidade pessoal com aquele ambiente. No entanto, a mata rapidamente foi se fechando, até virar esse breu. Não estou tão louco para deixar de perceber que isso não faz sentido. O caso é que não paira em minha mente qualquer explicação razoável sobre como foi a transição entre lugares tão distintos. Decerto algo muito traumático ocorreu, mas as condições não são as melhores para buscar coerência entre os pensamentos. Ainda, o que soa menos aceitável é eu estar com os três, pessoas pelas quais não nutro muito afeto, compartilhando um momento supostamente agradável.
Mas lembro que nem sempre foi assim. Dos três, ela era quem um dia me fora mais importante afetivamente. Ela surgiu ainda antes de nos acharmos adultos, em dia ordinário em que meu irmão e eu cuidávamos da mercearia de nossa família. Eu fingia não prestar atenção enquanto ela andava pelas prateleiras escolhendo os produtos. Meu irmão nem precisava fingir. Sequer a notara. Quando veio ao meu balcão para efetuar a compra, olhou fixamente em meus olhos. A sensação era sensivelmente desconfortável, especialmente porque eu não conseguia identificar um significado preciso para aquela fixação. Era evidente que se tratava de admiração, mas pelo que? Minha aparência seria uma justificativa, pois costumava causar alguma comoção no sexo feminino. Ocorre que, no caso dela, havia algo diferente. Como a atração que eu exercia me era algo bastante familiar, considerei não se tratar disso. Estava certo?
Em pouco tempo, passamos a frequentar outros ambientes juntos, eu, ela e meu irmão. Os encontros só não eram mais habituais por impedimentos postos por sua família. Ela deixara um noivo na cidade de onde viera. A toda evidência se percebia que esse relacionamento era particularmente caro à sua família. Ela pouco falava a respeito, mas era certo que seus pais não viam nossos encontros com bons olhos. Era como se representassem ameaça a seu noivado. E não parecia mesmo ser uma preocupação infundada. O espírito por trás daquele olhar enigmático persistia. Cada encontro era substancialmente entre eu e ela. Meu irmão era mero coadjuvante, e nem parecia se importar com isso.
Em pouco tempo, passamos a frequentar outros ambientes juntos, eu, ela e meu irmão. Os encontros só não eram mais habituais por impedimentos postos por sua família. Ela deixara um noivo na cidade de onde viera. A toda evidência se percebia que esse relacionamento era particularmente caro à sua família. Ela pouco falava a respeito, mas era certo que seus pais não viam nossos encontros com bons olhos. Era como se representassem ameaça a seu noivado. E não parecia mesmo ser uma preocupação infundada. O espírito por trás daquele olhar enigmático persistia. Cada encontro era substancialmente entre eu e ela. Meu irmão era mero coadjuvante, e nem parecia se importar com isso.
Fomos os três para a mesma faculdade. Passamos a compartilhar muito mais tempo juntos. Os pais dela já não pareciam capazes de exercer o mesmo controle. Meu gosto e paixão pelas disciplinas de humanidades pareciam aumentar o charme que eu exercia sobre ela. Quanto ao meu irmão, dividido entre matérias técnicas e financeiras, foi progressivamente se tornando ainda mais alheio. Cada vez mais os encontros eram meus e dela. Isso até o meu irmão ganhar aquele prêmio. Nunca entendi bem o que ele desenvolvera. Tratava-se de algo ligado a internet e direitos autorais. A idéia de pegar um pensamento e atrelá-lo a seu idealizador, como se fosse uma coisa que lhe pertencesse, nunca me pareceu natural. Talvez por isso nunca busquei entender. O que realmente me preocupava era que aquele olhar dela, que eu já julgava parte do meu patrimônio, foi progressivamente se direcionando a meu irmão.
Ainda antes de a faculdade acabar, diversos contratos surgiram para meu irmão. De pronto, ele abandonou nossa mercearia para se dedicar exclusivamente a sua nova atividade. As mudanças pareciam instantâneas. Ela rompeu seu noivado e me largou por completo. Nunca mais me examinou com olhar penetrante, dedicando esse privilégio exclusivamente a meu irmão. Era estranho ser o coadjuvante. Eu tentava chamar sua atenção com as reflexões provenientes de meus estudos. Não surtia efeito. Quando os dois anunciaram seu noivado, entrei em desespero. O dia de seu casamento foi o mais sofrido de minha vida até então.
A miséria que tomou conta de mim era imensurável. Passei uma eternidade buscando entender toda essa história. Foi de repente, no entanto, que tudo fez sentido. Aquele olhar, que outrora me foi tão caro, nunca mirou minha alma. Era apenas para o entretenimento dela, focando no que mais superficial havia em mim. Minha aparência física sempre atraiu a atenção das mulheres, mas sempre me incomodou a idéia de meu valor resolver-se nisso. Porém, era só o que ela buscava. Mesmo quando o que chamava a atenção eram meus discursos sobre os grandes mestres, era a aparência que importava. Tratava-se de um estilo que se manifestava em comportamentos visualmente apreendidos e que agregava valor apenas à minha aparência.
Essa constatação afligia-me sobremaneira, mas era muito explicativa. O que ela sempre buscou em um homem foi estabilidade financeira. Sempre me pareceu que eu era destinado a gerenciar nossa modesta mercearia, e que todos assim me viam. Eu nunca poderia lhe proporcionar o que ansiava. Doía perceber que toda estima que dediquei a ela foi em vão. Ela era pessoa totalmente submissa a seus desejos materiais. Sua personalidade, de tão superficial, gerava-me amargura. Mas o que realmente me atormentava era pensar que eu era igualmente sem conteúdo, um mero vaso ornamental. Seria fácil afastar essa dor atribuindo a ela e sua frivolidade toda a responsabilidade por eu ser assim concebido. No entanto, a mesma luva parecia entrar na mão de uma infinidade de pessoas. As experiências em geral serviam como atestado de minha futilidade. Em breve eu envelheceria e perderia a única coisa que me dava valor. Foram inúmeras as vezes que quis que ela morresse, sobretudo pelas minhas mãos. Ora, ela era a causa do sentimento que mais me dilacerava: o de que, em essência, eu não era nada.
O curioso é que meu irmão, por quem de certa forma fui trocado, sempre foi alguma espécie de nada. Era extremamente metódico e reservado. Podia facilmente ser tido por autista ou um autômato de natureza pouco definida. Algo como um relógio de mola ou uma locomotiva de brinquedo. Estávamos sempre juntos, quer na mercearia, na escola ou na rua. Não nos acompanhávamos apenas nos não raro momentos em que, em casa, detinha-se com seus livros entediantes. Em verdade, eu nunca soube o que abordavam. Nem mesmo ele falava daqueles textos. A paixão que demonstrava pelos livros era a mesma de todo o resto. Meu irmão tinha natureza tão apática que sequer era possível averiguar se algo lhe agradava ou perturbava. E assim foi sempre. Lembro-me de uma vez em que, ainda muito criança, questionei nosso pároco sobre a possibilidade de ele não ter alma. Aliás, isso ocorreu diversas vezes. Cessou apenas quando fui duramente repreendido e obrigado a aceitar dogmaticamente que todo homem possui alma.
Eu bem percebia que isso me beneficiava. No mínimo pela boa aparência e pelo jeito loquaz, quando comparado com meu irmão, eu deveria parecer transbordar vivacidade. Talvez aparentasse até ser um líder nato. Em tudo, o coitado tinha natureza submissa. Qualquer que fosse o ambiente em que se inseria, buscava alguém para lhe dizer o que fazer. Parecia mesmo incapaz de ter pensamentos próprios. Isso certamente contribuiu para aumentar o valor que os outros viam em mim. Fazia tudo o que eu lhe pedia como se fosse uma ordem. E mais, tudo o que meu irmão dizia, em suas raras manifestações públicas, era algo que eu já havia dito anteriormente e com muito mais veemência. Ao fim, era como se fosse um apêndice meu. Pensando agora, minha importância fica, em verdade, absurdamente diminuta quando se tem em conta que fui trocado por ele.
Seus sucessos, tanto o acadêmico quanto o profissional, sempre me pareceram obra do acaso. Sua inaptidão para ter pensamentos autônomos é de todo incompatível com o fato de se sustentar a conta de direitos autorais. Ora, esses assentam na noção de obra, que tem a originalidade como um de seus pressupostos. A mim só faz sentido que por algum processo mecânico, como o do burocrata com seus carimbos, tenha juntado as informações de seus livros sem graça. Os resultados a que chegou só podiam não ter sido desenvolvidos antes pela complexidade do algoritmo que a eles conduziu. Tal hipótese é bastante compatível com sua personalidade autista. Mas, nesse aspecto, minha opinião é de todo irrelevante. Seu sucesso era notório. Os outros, ao invés de apenas demonstrar surpresa, rapidamente descobriram formas de dele se aproveitar.
Era fato que meu irmão era a mesma criatura débil e apática de sempre. Perceber isso ao mesmo tempo que ver seu reconhecimento social superior ao meu era contradição sufocante. Mais que isso, atordoava ver que pela primeira vez eu não conseguia tirar proveito pessoal de sua fraqueza, enquanto todos os demais pareciam fazê-lo com singela facilidade. Não eram escrúpulos ou qualquer outra causa nobre que me impediam. Apenas eu e meu irmão não aproveitávamos seu sucesso. Como isso lhe fora sempre natural, a impressão que me dava era a de que eu era pior que todos, sobretudo que ele. O idiota ao menos ampliou a gama de benefícios que gerava a outros. Por diversas vezes cheguei a querer matá-lo. Assim não haveria como se sobressair a mim. Acho que a imaginação da dor que me causaria um insucesso era a única coisa que me impedia. Talvez não. Acho que, no fundo, eu ainda tinha a esperança de poder tirar proveito da situação.
Agora, se havia alguém que o fazia com magistral habilidade, esse era o estranho. Assim como com meu irmão, eu nunca pude saber seu posicionamento sobre qualquer assunto. Entretanto, o motivo era totalmente diverso, embora ainda hoje eu não o identifique ao certo. Também como com meu irmão, eram raras suas manifestações públicas. Porém, quando ocorriam, ao contrário daquele, era certo que expressava a própria personalidade. Essa, embora muito discreta, era enérgica de maneira transbordante. Tudo nele sempre foi muito misterioso, a começar por seu surgimento, alguns meses depois de meu irmão ter ganhado seu prêmio. Apareceu a pretexto de representar uma grande figura do ramo em que meu irmão atuava, apenas para cuidar de alguns poucos contratos. Em pouco tempo, tratava de toda a parte negocial do empreendimento do meu irmão, que não pareceu ter achado isso ruim. O estranho era figura instigante. Sua mera presença era agradável, ainda que não se pudesse identificar o porquê. O espírito submisso do meu irmão encontrou no estranho alguém em quem apoiar sua nova vida. Isso já não podia ser feito sobre mim, provavelmente por eu ser completo leigo sobre tudo o que envolvia seus negócios.
Em pouco tempo, porém, o estranho foi tomando conta de outros aspectos da vida de meu irmão. No começo, isso não despertou em mim qualquer reação particular. Eu estava muito ocupado tentando buscar algo que me atribuísse valor. A dor que me causava ver todos exceto eu tirando proveito de meu irmão era grande. Não tanto, no entanto, quanto a provocada pela sensação de falta de valor próprio. Houve um jantar em família, porém, em que percebi que ela estava claramente dirigindo aquele olhar, meu velho conhecido, ao estranho. Foi então que percebi que ele estava tomando o lugar que eu ocupava até meu irmão obter sucesso. Em pouco tempo, o estranho atuava como verdadeiro chefe familiar. Eu continuava gerenciando a mercearia, mas ela trazia proveitos econômicos muito modestos. Por isso, o grupo não poderia reconhecer em mim grande autoridade. O estranho, ao contrário, visivelmente maximizava o valor das atividades de meu irmão. Por diversas vezes busquei retirar a autoridade conquistada pelo estranho. Minha estratégia era imputar a ele toda sorte de comportamentos moralmente reprováveis que pude. Eu o fazia mesmo quando não se tratasse de condutas suas. Tudo em vão. Sua geração de bons resultados parecia justificar qualquer defeito. Ainda, eu não conseguia sequer vislumbrar sua essência, sendo inimigo muito superior a mim. Ao fim, só me restava um jeito de sobrepor-me a ele e buscar retomar meu posto: matando-o.
Agora tudo faz mais sentido. Nos últimos anos, essas três pessoas atuaram de maneira bastante eficaz, ainda que não tenham percebido, para me reduzir a nada. Isso me dilacerava e trazê-los para esse covil era a solução de meus problemas. Ali, eu poderia matá-los e ninguém os encontraria. Seria a ocasião ideal para eu poder recuperar um pouco de dignidade. Mas ainda não consigo entender como farei isso. Como viemos parar aqui e como daqui posso sair? O desconhecimento dessas questões tão básicas angustia meu espírito. Será que se trata do contrário? Impossível. Eu já não tenho qualquer relevância social. Não há porque algum deles me querer morto. Já não sou nada. Também não poderia ser o caso de estarmos apenas nos divertindo. Eu não podia fazê-lo com essas pessoas, cuja mera existência me é insuportável. Certamente eu planejei nossa vinda para cá de modo a aparentar mero acidente. O mais provável é que um realmente aconteceu. Agora basta eu me concentrar para trazer à memória os meios para consumar meu plano. Assim como entendi o que estava acontecendo, a nova solução surgirá. É só uma questão de tempo.
Com essa ideia em mente, sentindo-se aliviado pela esperança de voltar a ser alguém, adormeceu tranqüilamente. As horas se passaram, tornando evidente que a refeição que fizera há pouco apenas criou uma ilusão de saciedade. Seu corpo precisava de mais, e a mente foi paulatinamente definhando. A impressão de que o tempo esclareceria como sair dali e concretizar suas vis ambições foi se mostrando cada vez mais falsa. Mas ele não era capaz de percebê-lo. O processo era o de um alheamento que o assemelhava cada vez mais a um animal. Reflexões sobre valor pessoal, seja como auto-estima, seja como status social, já não pareciam cabíveis. Em verdade, não era a primeira vez que teve aquela série de pensamentos. Toda vez que conseguia alguma espécie de conforto material, surgiam essas cogitações. Acontece que tais confortos estavam cada vez mais raros. Assim, esses episódios eram cada vez mais fugazes e as idéias progressivamente menos concatenadas. Também é certo que não era ele o único a tecer considerações dessa natureza. Os outros três realizavam operações semelhantes, cada um ao modo próprio de sua personalidade. No momento de satisfação das necessidades mais básicas, substituíam-nas por outras. Essas, embora mais sutis, resultavam em tamanha negação de si mesmos que talvez fossem mais intensas que as substituídas. A verdade é que a vida toda foi assim. Ainda que externamente não fosse tão perceptível, havia somente variação de grau. A situação de extrema penúria apenas agravou o quadro.
O curioso é que não era particularmente difícil conseguir o necessário para sobreviver naquele lugar. Ele era um esconderijo feito por escravos mestiços foragidos em tempos bastante remotos. Fora estrategicamente idealizado para prover um pequeno grupo com água, comida e calor por longos períodos. Diversas trilhas de animais silvestres passavam por esse buraco. Tornou-se elemento essencial daquele ecossistema, com o qual se integrava perfeitamente. O conhecimento para a formação dessa simbiose não era técnica conhecida de descendentes de colonos europeus. Os quatro que lá vinham habitando, representantes menores da pequena elite local, sequer sabiam como usufruir as vantagens daquele ambiente. Ironicamente, era a separação entre eles e os nativos, de que tão pomposamente se orgulhavam, que os condenava à sucumbência. De toda forma, o que viviam era verdadeiro pesadelo.
Passando a imensa maioria do tempo na completa escuridão, era curioso o modo como se fazia o preenchimento do conteúdo de suas consciências. Em verdade, subjacente a tudo o que experimentavam, estava a única constante que se encontra em qualquer situação – e que, abstratamente, pode ser caracterizada como um imenso vazio urgindo por preenchimento. Na situação em que se encontravam, no entanto, os próprios elementos básicos a partir dos quais a experiência era construída já são usualmente caracterizados como negativos. Diversas sensações eram velhas conhecidas e independiam da visão: frio, fome e medo, eram apenas algumas. Mas a mente não se contentava com isso. Buscava associar imagens a elas. Para tanto, não conseguia separar memórias de aspirações O resultado era figuras surreais e desesperadoras. No mais das vezes, eram as criaturas que lhes serviam de alimentos que vinham cobrar sua contrapartida, retirando partes de seus corpos. O que restava era tornado inerte por espessas brumas azuis que lentamente envolviam seus corpos. As lareiras de suas antigas residências e os grandes banquetes servidos nas festas eram vigiados por juízes que lhes lançavam olhares de repreensão como se deles não fossem merecedores. Na prática, estavam cada vez mais ineptos. O efeito era o de estarem sendo lentamente devorados.
Eram patéticas suas habilidades para conseguir o que, nos eventos sociais que frequentavam, chamavam de “mínimo existencial”. A expressão era parte de discursos de justificação ética de suas próprias práticas usurpadoras daqueles a quem tal mínimo deveria ser conferido. Não estavam em condição, no entanto, de perceber que disso se tratava. Estavam em estado animalesco. Não era razoável exigir deles qualquer reflexão minimamente elaborada. Mesmo os conflitos existentes entre si, objeto de seus pensamentos nos raros momentos de saciedade, já não apresentavam grande relevância. Todos os rancores foram progressivamente sendo postos de lado para formar um vínculo cooperativo que até então desconheciam. Nada mais natural. Por menor que fosse o animal abatido, nenhum dos quatro conseguia exaurir sozinho a carne que dele se retirava. O sucesso individual gerava, por contraditório que seja com o quadro de escassez, um excedente. Esse, no entanto, não podia ser apropriado pelo vencedor, pois as condições precárias em que se encontravam não permitiam o armazenamento útil. Servia, então, apenas para saciar as necessidades dos demais. O êxito pessoal era sempre imprevisível. Fazia-se impossível que qualquer deles pudesse se assegurar da capacidade de auto-suficiência. Assim, progressivamente perceberam que em conjunto formavam uma unidade produtiva muito mais eficiente. Mas não de maneira racional. Foi em seus inconscientes que se ia consolidando a privação de toda individualidade e a formação de uma unidade grupal. Os momentos de saciedade já não ensejavam pensamentos de adversidade de um para com o outro. Essa solidariedade foi crescendo em assustadora progressão, tornando-os cada vez mais eficazes para promover sua subsistência. Assim foi até que o último deles sucumbiu naquele buraco. Sim, a cooperação foi útil, mas chegou tarde demais.
Ainda antes de a faculdade acabar, diversos contratos surgiram para meu irmão. De pronto, ele abandonou nossa mercearia para se dedicar exclusivamente a sua nova atividade. As mudanças pareciam instantâneas. Ela rompeu seu noivado e me largou por completo. Nunca mais me examinou com olhar penetrante, dedicando esse privilégio exclusivamente a meu irmão. Era estranho ser o coadjuvante. Eu tentava chamar sua atenção com as reflexões provenientes de meus estudos. Não surtia efeito. Quando os dois anunciaram seu noivado, entrei em desespero. O dia de seu casamento foi o mais sofrido de minha vida até então.
A miséria que tomou conta de mim era imensurável. Passei uma eternidade buscando entender toda essa história. Foi de repente, no entanto, que tudo fez sentido. Aquele olhar, que outrora me foi tão caro, nunca mirou minha alma. Era apenas para o entretenimento dela, focando no que mais superficial havia em mim. Minha aparência física sempre atraiu a atenção das mulheres, mas sempre me incomodou a idéia de meu valor resolver-se nisso. Porém, era só o que ela buscava. Mesmo quando o que chamava a atenção eram meus discursos sobre os grandes mestres, era a aparência que importava. Tratava-se de um estilo que se manifestava em comportamentos visualmente apreendidos e que agregava valor apenas à minha aparência.
Essa constatação afligia-me sobremaneira, mas era muito explicativa. O que ela sempre buscou em um homem foi estabilidade financeira. Sempre me pareceu que eu era destinado a gerenciar nossa modesta mercearia, e que todos assim me viam. Eu nunca poderia lhe proporcionar o que ansiava. Doía perceber que toda estima que dediquei a ela foi em vão. Ela era pessoa totalmente submissa a seus desejos materiais. Sua personalidade, de tão superficial, gerava-me amargura. Mas o que realmente me atormentava era pensar que eu era igualmente sem conteúdo, um mero vaso ornamental. Seria fácil afastar essa dor atribuindo a ela e sua frivolidade toda a responsabilidade por eu ser assim concebido. No entanto, a mesma luva parecia entrar na mão de uma infinidade de pessoas. As experiências em geral serviam como atestado de minha futilidade. Em breve eu envelheceria e perderia a única coisa que me dava valor. Foram inúmeras as vezes que quis que ela morresse, sobretudo pelas minhas mãos. Ora, ela era a causa do sentimento que mais me dilacerava: o de que, em essência, eu não era nada.
O curioso é que meu irmão, por quem de certa forma fui trocado, sempre foi alguma espécie de nada. Era extremamente metódico e reservado. Podia facilmente ser tido por autista ou um autômato de natureza pouco definida. Algo como um relógio de mola ou uma locomotiva de brinquedo. Estávamos sempre juntos, quer na mercearia, na escola ou na rua. Não nos acompanhávamos apenas nos não raro momentos em que, em casa, detinha-se com seus livros entediantes. Em verdade, eu nunca soube o que abordavam. Nem mesmo ele falava daqueles textos. A paixão que demonstrava pelos livros era a mesma de todo o resto. Meu irmão tinha natureza tão apática que sequer era possível averiguar se algo lhe agradava ou perturbava. E assim foi sempre. Lembro-me de uma vez em que, ainda muito criança, questionei nosso pároco sobre a possibilidade de ele não ter alma. Aliás, isso ocorreu diversas vezes. Cessou apenas quando fui duramente repreendido e obrigado a aceitar dogmaticamente que todo homem possui alma.
Eu bem percebia que isso me beneficiava. No mínimo pela boa aparência e pelo jeito loquaz, quando comparado com meu irmão, eu deveria parecer transbordar vivacidade. Talvez aparentasse até ser um líder nato. Em tudo, o coitado tinha natureza submissa. Qualquer que fosse o ambiente em que se inseria, buscava alguém para lhe dizer o que fazer. Parecia mesmo incapaz de ter pensamentos próprios. Isso certamente contribuiu para aumentar o valor que os outros viam em mim. Fazia tudo o que eu lhe pedia como se fosse uma ordem. E mais, tudo o que meu irmão dizia, em suas raras manifestações públicas, era algo que eu já havia dito anteriormente e com muito mais veemência. Ao fim, era como se fosse um apêndice meu. Pensando agora, minha importância fica, em verdade, absurdamente diminuta quando se tem em conta que fui trocado por ele.
Seus sucessos, tanto o acadêmico quanto o profissional, sempre me pareceram obra do acaso. Sua inaptidão para ter pensamentos autônomos é de todo incompatível com o fato de se sustentar a conta de direitos autorais. Ora, esses assentam na noção de obra, que tem a originalidade como um de seus pressupostos. A mim só faz sentido que por algum processo mecânico, como o do burocrata com seus carimbos, tenha juntado as informações de seus livros sem graça. Os resultados a que chegou só podiam não ter sido desenvolvidos antes pela complexidade do algoritmo que a eles conduziu. Tal hipótese é bastante compatível com sua personalidade autista. Mas, nesse aspecto, minha opinião é de todo irrelevante. Seu sucesso era notório. Os outros, ao invés de apenas demonstrar surpresa, rapidamente descobriram formas de dele se aproveitar.
Era fato que meu irmão era a mesma criatura débil e apática de sempre. Perceber isso ao mesmo tempo que ver seu reconhecimento social superior ao meu era contradição sufocante. Mais que isso, atordoava ver que pela primeira vez eu não conseguia tirar proveito pessoal de sua fraqueza, enquanto todos os demais pareciam fazê-lo com singela facilidade. Não eram escrúpulos ou qualquer outra causa nobre que me impediam. Apenas eu e meu irmão não aproveitávamos seu sucesso. Como isso lhe fora sempre natural, a impressão que me dava era a de que eu era pior que todos, sobretudo que ele. O idiota ao menos ampliou a gama de benefícios que gerava a outros. Por diversas vezes cheguei a querer matá-lo. Assim não haveria como se sobressair a mim. Acho que a imaginação da dor que me causaria um insucesso era a única coisa que me impedia. Talvez não. Acho que, no fundo, eu ainda tinha a esperança de poder tirar proveito da situação.
Agora, se havia alguém que o fazia com magistral habilidade, esse era o estranho. Assim como com meu irmão, eu nunca pude saber seu posicionamento sobre qualquer assunto. Entretanto, o motivo era totalmente diverso, embora ainda hoje eu não o identifique ao certo. Também como com meu irmão, eram raras suas manifestações públicas. Porém, quando ocorriam, ao contrário daquele, era certo que expressava a própria personalidade. Essa, embora muito discreta, era enérgica de maneira transbordante. Tudo nele sempre foi muito misterioso, a começar por seu surgimento, alguns meses depois de meu irmão ter ganhado seu prêmio. Apareceu a pretexto de representar uma grande figura do ramo em que meu irmão atuava, apenas para cuidar de alguns poucos contratos. Em pouco tempo, tratava de toda a parte negocial do empreendimento do meu irmão, que não pareceu ter achado isso ruim. O estranho era figura instigante. Sua mera presença era agradável, ainda que não se pudesse identificar o porquê. O espírito submisso do meu irmão encontrou no estranho alguém em quem apoiar sua nova vida. Isso já não podia ser feito sobre mim, provavelmente por eu ser completo leigo sobre tudo o que envolvia seus negócios.
Em pouco tempo, porém, o estranho foi tomando conta de outros aspectos da vida de meu irmão. No começo, isso não despertou em mim qualquer reação particular. Eu estava muito ocupado tentando buscar algo que me atribuísse valor. A dor que me causava ver todos exceto eu tirando proveito de meu irmão era grande. Não tanto, no entanto, quanto a provocada pela sensação de falta de valor próprio. Houve um jantar em família, porém, em que percebi que ela estava claramente dirigindo aquele olhar, meu velho conhecido, ao estranho. Foi então que percebi que ele estava tomando o lugar que eu ocupava até meu irmão obter sucesso. Em pouco tempo, o estranho atuava como verdadeiro chefe familiar. Eu continuava gerenciando a mercearia, mas ela trazia proveitos econômicos muito modestos. Por isso, o grupo não poderia reconhecer em mim grande autoridade. O estranho, ao contrário, visivelmente maximizava o valor das atividades de meu irmão. Por diversas vezes busquei retirar a autoridade conquistada pelo estranho. Minha estratégia era imputar a ele toda sorte de comportamentos moralmente reprováveis que pude. Eu o fazia mesmo quando não se tratasse de condutas suas. Tudo em vão. Sua geração de bons resultados parecia justificar qualquer defeito. Ainda, eu não conseguia sequer vislumbrar sua essência, sendo inimigo muito superior a mim. Ao fim, só me restava um jeito de sobrepor-me a ele e buscar retomar meu posto: matando-o.
Agora tudo faz mais sentido. Nos últimos anos, essas três pessoas atuaram de maneira bastante eficaz, ainda que não tenham percebido, para me reduzir a nada. Isso me dilacerava e trazê-los para esse covil era a solução de meus problemas. Ali, eu poderia matá-los e ninguém os encontraria. Seria a ocasião ideal para eu poder recuperar um pouco de dignidade. Mas ainda não consigo entender como farei isso. Como viemos parar aqui e como daqui posso sair? O desconhecimento dessas questões tão básicas angustia meu espírito. Será que se trata do contrário? Impossível. Eu já não tenho qualquer relevância social. Não há porque algum deles me querer morto. Já não sou nada. Também não poderia ser o caso de estarmos apenas nos divertindo. Eu não podia fazê-lo com essas pessoas, cuja mera existência me é insuportável. Certamente eu planejei nossa vinda para cá de modo a aparentar mero acidente. O mais provável é que um realmente aconteceu. Agora basta eu me concentrar para trazer à memória os meios para consumar meu plano. Assim como entendi o que estava acontecendo, a nova solução surgirá. É só uma questão de tempo.
***
O curioso é que não era particularmente difícil conseguir o necessário para sobreviver naquele lugar. Ele era um esconderijo feito por escravos mestiços foragidos em tempos bastante remotos. Fora estrategicamente idealizado para prover um pequeno grupo com água, comida e calor por longos períodos. Diversas trilhas de animais silvestres passavam por esse buraco. Tornou-se elemento essencial daquele ecossistema, com o qual se integrava perfeitamente. O conhecimento para a formação dessa simbiose não era técnica conhecida de descendentes de colonos europeus. Os quatro que lá vinham habitando, representantes menores da pequena elite local, sequer sabiam como usufruir as vantagens daquele ambiente. Ironicamente, era a separação entre eles e os nativos, de que tão pomposamente se orgulhavam, que os condenava à sucumbência. De toda forma, o que viviam era verdadeiro pesadelo.
Passando a imensa maioria do tempo na completa escuridão, era curioso o modo como se fazia o preenchimento do conteúdo de suas consciências. Em verdade, subjacente a tudo o que experimentavam, estava a única constante que se encontra em qualquer situação – e que, abstratamente, pode ser caracterizada como um imenso vazio urgindo por preenchimento. Na situação em que se encontravam, no entanto, os próprios elementos básicos a partir dos quais a experiência era construída já são usualmente caracterizados como negativos. Diversas sensações eram velhas conhecidas e independiam da visão: frio, fome e medo, eram apenas algumas. Mas a mente não se contentava com isso. Buscava associar imagens a elas. Para tanto, não conseguia separar memórias de aspirações O resultado era figuras surreais e desesperadoras. No mais das vezes, eram as criaturas que lhes serviam de alimentos que vinham cobrar sua contrapartida, retirando partes de seus corpos. O que restava era tornado inerte por espessas brumas azuis que lentamente envolviam seus corpos. As lareiras de suas antigas residências e os grandes banquetes servidos nas festas eram vigiados por juízes que lhes lançavam olhares de repreensão como se deles não fossem merecedores. Na prática, estavam cada vez mais ineptos. O efeito era o de estarem sendo lentamente devorados.
Eram patéticas suas habilidades para conseguir o que, nos eventos sociais que frequentavam, chamavam de “mínimo existencial”. A expressão era parte de discursos de justificação ética de suas próprias práticas usurpadoras daqueles a quem tal mínimo deveria ser conferido. Não estavam em condição, no entanto, de perceber que disso se tratava. Estavam em estado animalesco. Não era razoável exigir deles qualquer reflexão minimamente elaborada. Mesmo os conflitos existentes entre si, objeto de seus pensamentos nos raros momentos de saciedade, já não apresentavam grande relevância. Todos os rancores foram progressivamente sendo postos de lado para formar um vínculo cooperativo que até então desconheciam. Nada mais natural. Por menor que fosse o animal abatido, nenhum dos quatro conseguia exaurir sozinho a carne que dele se retirava. O sucesso individual gerava, por contraditório que seja com o quadro de escassez, um excedente. Esse, no entanto, não podia ser apropriado pelo vencedor, pois as condições precárias em que se encontravam não permitiam o armazenamento útil. Servia, então, apenas para saciar as necessidades dos demais. O êxito pessoal era sempre imprevisível. Fazia-se impossível que qualquer deles pudesse se assegurar da capacidade de auto-suficiência. Assim, progressivamente perceberam que em conjunto formavam uma unidade produtiva muito mais eficiente. Mas não de maneira racional. Foi em seus inconscientes que se ia consolidando a privação de toda individualidade e a formação de uma unidade grupal. Os momentos de saciedade já não ensejavam pensamentos de adversidade de um para com o outro. Essa solidariedade foi crescendo em assustadora progressão, tornando-os cada vez mais eficazes para promover sua subsistência. Assim foi até que o último deles sucumbiu naquele buraco. Sim, a cooperação foi útil, mas chegou tarde demais.
conte o seu
Bianca AzenhaDOIS COPOS DE UÍSQUE, NÓS ABRAÇADOS CANTANDO QUALQUER BOBAGEM, TE AMO.
Ficar insistindo em dizer ambigüidades baratas e clichês. Um tempo, minhas 25 horas. E para não ser tão atemporal, uma xícara de chá bem quente com açúcar. Mas por favor, não se esqueça de pensar em mim quanto for se deitar. Atemporal, sim. Meloso e atemporal. Nada mais inóspito do que sentimentos sentimentais demais.Quero mesmo é falar da foda da semana passada. Do jogo de futebol do domingo ou até mesmo daquele transtorno bipolar. Não. É demais. Questões psíquicas me atingem de uma forma covarde, tenho vontade de abraçar e nunca mais soltar. Falemos então só da cerveja depois do serviço que nunca foi serviço, talvez, também, da nova banda de punk-rock-metal-melódico-anarquista. Pronto. E acaba o dia e teremos outra discussão de como será a melhor posição para ambos.Tá, eu não consigo. Prefiro tentar abrir a boca e te contar de mim como se você fosse meu papel amassado e em branco. Fingir que você ainda não criou o seu mundo e fingir que eu sempre fiz parte dele. Futuro. Nós dois. Cebola, alho, Raul Seixas no toca fitas, rosas. Sal, água, sal, água. Mas mesmo assim você nunca desmaiou dentro do ônibus, e eu nunca vi o que você sempre vê. Entretanto meus óculos vermelhos nunca sairão da estante. Vou sempre pedir o seu isqueiro, vou sempre arrepiar os pêlos quando sua boca quente me tocar. Vou sempre imaginar você me abraçando na hora de dormir pra ver se o meu medo do escuro passa. Adoro carimbos, cartas, remetentes e o tom de sua voz. Ainda sonho, afinal, com o óleo, as panelas queimando com a cebola e o alho e a gente cantando um rock antigo no fundo do nosso quintal.
Bianca Azenha
(sonhosamadores.blogspot.com)
Ps: Conheci o blog tem pouco tempo e fui logo invadida por um desejo de poder participar também!
Beijos e Abraços
Assinar:
Postagens (Atom)